A guerra tarifária com os Estados Unidos acendeu um alerta a exportação de produtos brasileiros em geral. Porém, graças a característica de perecibilidade dos alimentos é mais do que obrigatório colocar os holofotes sobre o tema.
Assim, além de nos preocuparmos com a taxação é importante analisarmos a cadeia de alimentos no Brasil.
É importante iniciar reforçando que definitivamente essa não deve ser uma discussão de curto prazo. Segundo o quadro abaixo, fica clara a capacidade longeva de produção de alimentos pelo Brasil. Infraestrutura é realmente um ponto que exige investimentos, porém, nos demais o país se destaca.
Análise comparativa com outros grandes fornecedores globais:

O Brasil está frequentemente classificado entre os três maiores exportadores de alimentos do mundo, rivalizando com os Estados Unidos e a União Europeia. Essa posição coloca o país como um pilar na segurança alimentar global.
O Brasil tem a seu favor a biodiversidade que provê super alimentos como açaí e alimentos funcionais como guaraná, dentre tantos outros, sem dúvida, diferenciais únicos. Além disso, avançamos em selos de sustentabilidade que sinalizam a redução de pesticidas e garantem desmatamento zero.
Outro diferencial são as diferentes características climáticas e geográficas que permitem a amplificação da produção e até a adaptação de animais e sementes ao país.
Em termos de qualidade e certificações globais há de se destacar que especialmente os negócios agropecuários são extremamente rigorosos e muitas empresas possuem certificações halal, fair trade, boas práticas agrícolas e rigoroso monitoramento sanitário graças ao seu modelo de rastreabilidade e inspiração sanitária, o que coloca o país em situação de diferenciação em relação a confiabilidade dos produtos.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, com forte presença em mercados como China, países árabes e Europa. Esta posição é sustentada pela combinação de qualidade, produção em escala e preço competitivo.
A cadeia brasileira de produção de proteína animal é bem integrada, desde a criação no campo até grandes frigoríficos como JBS, BRF e Marfrig, oferecendo eficiência de custo e padronização de qualidade.
Outro diferencial é que o Brasil é um dos líderes no uso de biocombustíveis em suas operações agrícolas e industriais, reduzindo a pegada de carbono em relação aos competidores. O Brasil sempre se articulou com blocos comerciais que estimulam o comercial global, como Mercosul e União Europeia. Claro, que o mercado americano é muito importante para o Brasil, porém, existem mercados alternativos como Oriente Médio, especialmente países do Golfo, China, países vizinhos da América Latina e até a África.
Também devemos destacar o fortalecimento do mercado interno. Muitas vezes dizemos que exportamos o melhor e que o mercado nacional não absorve esses produtos. Estamos em um momento em que observamos o crescimento do canal hoteleiro em foodservice.
Inclusive, o país se tornou o segundo com maior crescimento no turismo internacional no primeiro trimestre de 2025, com um aumento de 48% nas chegadas de estrangeiros em comparação com o mesmo período de 2024, segundo dados da Organização Mundial do Turismo. Além disso, os investimentos estrangeiros diretos no setor turístico cresceram 88% no primeiro trimestre, atingindo US$ 81 milhões.
O Brasil é realmente um competidor diferenciado e devemos assegurar que isso seja destacado, valorizado e remunerado a contento em meio às discussões em curso.
Claro, que o momento cria uma série de tensões e perdas, porém, os movimentos de médio e longo prazo devem revelar um Brasil exportador com perspectivas ainda mais estratégicas e sofisticadas do ponto de vista internacional.
Cristina Souza é CEO da Gouvêa Foodservice.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato

