A polarização na sua concepção mais básica é a limitação da visão e da capacidade para entender de forma mais ampla, profunda e abrangente o processo de transformação da sociedade, considerando todas as suas vertentes, nuances, características e particularidades.
A limitação para esse entendimento é que define sua mediocridade. E quando em um país ela é liderada por aqueles que têm poder institucional, a Nação se apequena, regride econômica e socialmente e retroage nos planos político, social, econômico e na evolução de sua maturidade.
Isto é o que temos vivido na realidade presente como herança de períodos recentes e independe de opções político-partidárias.
A política faz parte das relações sociais e é preciso separar aquela ambiciosa e focada, na gestão do que é melhor para a sociedade, daquela mesquinha e imediatista, desvirtuada pelas questões partidárias que privilegiam o nós contra eles.
Na prática quem perde pela polarização é a Nação
A mesquinhez da polarização tem custado caro à Nação, que se vê envolta em um processo em que é nítido o crescimento da desigualdade social, da insegurança, da inadimplência, do endividamento da população e da inflação de alimentos, gerando evolução real negativa do desempenho do varejo e do consumo.
E ainda com o concomitante crescimento e aparelhamento do Estado com significativo aumento dos gastos públicos. E o aumento do endividamento e o desequilíbrio fiscal.
Este poderia ser um momento mágico para o país se beneficiar de seus inegáveis ativos naturais e os investimentos feitos em alguns setores para se reposicionar em um convulsionado mundo, envolvido por conflitos políticos e econômicos.
Seria um momento em que a visão, a habilidade e o entendimento político poderiam contribuir para maior e mais significativo crescimento econômico e social.
Mas ao contrário, estamos vivendo uma evolução pífia da economia e acirramento de ânimos sem precedentes e já embarcando num período eleitoral em que uma parte do País vai desacreditar no que está feito e outra vai tentar destruir o que poderia ser feito.
O dito popular é sábio: casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão.
E é no mínimo pueril a visão simplista de que um salvador da pátria pode surgir e integrar o País.
O setor empresarial pode ser o amálgama político
O que se tem visto é o agravamento do quadro com a politização da Justiça a partir do STF e a exponenciação da polarização no âmbito do Legislativo e do Executivo.
Para complicar um pouco mais, há falta de líderes empresariais autênticos e visionários. Faltam nomes como Antônio Ermírio de Morais, Abilio Diniz e Jorge Gerdau para coordenar, integrar e liderar com a força de suas ideias e capacidade de representação ampla.
No passado ainda havia o interesse nos temas empresariais, pois envolvia captação de verbas no processo eleitoral. Algo que hoje foi substituído pelos fundos partidários, afastando e reduzindo interesse pelo diálogo e pelo repensar de projetos. Vale lembrar que o fundão eleitoral já está em R$ 5 bilhões e existem propostas para sua elevação imediata.
Mas é o setor empresarial que tem a visão global mais atual. Que tem a capacidade de articular, desenvolver e implantar projetos de longo prazo, com a ótica de mercado e respeito aos temas sociais. E através das relações com consumidores-cidadãos, viabilizar crescimento e expansão de negócios.
Que tem a sensibilidade, envolvimento e atuação cada vez mais relevante nos temas ligados à Sustentabilidade, pois essa é demanda crescente da Sociedade.
Mas não se pode negar que o setor empresarial está com os olhos mais fixos e concentrados no desempenho de seus próprios negócios, no ambiente convulsionado e desafiador da polarização política e econômica global e potencializado pelas questões locais. Em que precisa ser destacada a contração nas vendas em quase todas as categorias e segmentos de consumo e uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Além da transformação tecnológica e digital combinada com a revolução precipitada pela Inteligência Artificial.
Como desviar o foco, atenção e recursos para cuidar do País em um cenário como esse?
Os “Brasis” da Economia Real e da Economia Financeira
O Brasil da Economia Financeira vive momento especial alimentado pelas atuais taxas reais de juros. Que têm como resultado o desestímulo ao investimento do setor privado, pois é muito mais seguro e tranquilo aplicar e viver dos resultados das aplicações.
Como resultado, o Brasil real vive as amarguras do baixo crescimento – são 25 anos de crescimento médio do PIB inferior a 2,5% – em um país com todo o potencial econômico e social que possui.
O enigma está colocado
O setor empresarial, em especial da Economia Real, concentra sua atenção na sobrevida de seus negócios no ambiente conflagrado e delega por contingência os grandes temas nacionais aos poderes constituídos. E esses, consumidos pela polarização política partidária, se engalfinham pelo resultado da próxima eleição.
E a Nação se apequena, apesar de ser uma das dez maiores economias do Mundo, agravando o quadro de desigualdades, insegurança e conflitos internos. E desperdiçando a condição ímpar no plano ambiental, natural e das competências desenvolvidas nas mais diversas áreas.
Cada instituição, entidade, associação, grupamento social ou empresarial deveria adotar um tempo mínimo para reflexão. Para discutir visão e contribuição para resolver o enigma que impede o País de crescer e se desenvolver pelo caminho da Economia Real, pelos danos que temos vivido e viveremos a prosseguirmos na escalada de insanidade que significa a polarização.
É um mínimo de reflexão que leve a alguma ação.
Seja qual for, será melhor do que o cenário que temos à frente.
Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvêa Ecosystem e publisher da plataforma Mercado&Consumo.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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