Vivemos tempos em que ser notificado se tornou sinônimo de existir. O celular vibra, a tela acende, o algoritmo nos chama pelo nome. E nós, obedientes, respondemos. Mas será que, nesse mar de estímulos, ainda sabemos o que realmente importa?
Somos impactados por milhares de mensagens todos os dias. Posts, stories, vídeos de 30 segundos que prometem mudar sua vida em 3 passos. Mais conectados do que nunca, mas não necessariamente mais conscientes.
O hype digital transformou as redes sociais em palcos globais. Do post orgânico ao marketing profissional.
Dos influenciadores aos criadores de conteúdo, dos funis de vendas aos lançamentos “milionários”.
E, no meio desse espetáculo, as pessoas? Cada vez mais cansadas. Cada vez mais seletivas. Cada vez mais em busca de silêncio.
É aí que surge o digital detox. Não como uma moda passageira, mas como um movimento de sobrevivência: um convite a desacelerar, filtrar, escolher. Um ato quase de resistência diante do barulho.
No 10° Latam Retail Show, foi trazido esse tema ao palco com duas vozes que ampliaram a reflexão. De um lado, o escritor André Carvalhal, com sua visão crítica sobre consumo e comportamento, lembrou que o digital deveria ser uma ponte, mas muitas vezes virou muro. Para ele, o detox não é sobre largar a tecnologia, mas em recuperar a consciência no tempo, no consumo, nas relações.
Do outro, a executiva Ana Szas, que já liderou a estratégia e a experiência da Havaianas, talvez a marca que mais traduza o Brasil no mundo, falou sobre como o varejo pode ser um espaço de reconexão: uma loja que não só vende, mas convida a viver. Uma marca que não se perde no excesso, mas escolhe o simples, o plural, o real.
Entre a reflexão e a prática, ficou uma certeza: o futuro do varejo não é estar “sempre on”. É estar presente.
É respeitar o tempo, o olhar e a atenção do consumidor como o recurso mais valioso que ele possui.
É ser filtro, não ruído. Curador, não spam.
Talvez o maior luxo do nosso tempo não seja mais acumular coisas, mas preservar a clareza do que faz sentido.
E, nesse caminho, marcas e empresas têm um papel crucial: proteger o público do excesso e devolver a ele aquilo que é essencial.
Do hype ao humano. Essa talvez seja a verdadeira jornada do futuro. Não se trata de desconectar, mas de reconectar consigo mesmo, com as pessoas e com as marcas que escolhem fazer parte da vida real.
No fim das contas, a pergunta é simples: você quer ser parte do barulho ou da cura?
Jean Paul Rebetez é sócio-diretor da Gouvêa Consulting.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato
