Todo empreendedor conhece a frustração: vagas abertas, planos de expansão prontos, mas uma dificuldade imensa para encontrar o talento certo para executar a visão. O que poucos percebem é que o problema raramente é a falta de candidatos, mas sim o profundo descompasso entre a formação que eles trazem e a agilidade que um negócio em crescimento exige. Não é teoria: uma pesquisa do ManpowerGroup mostra que 81% das empresas brasileiras sentem essa mesma dor.
O resultado é o que chamo de paradoxo do currículo cheio. Recebemos dezenas de currículos com diplomas e certificados, mas, na prática, os profissionais não possuem as competências necessárias para resolver problemas reais desde o primeiro dia. Isso gera um custo da curva de aprendizagem altíssimo, com meses de treinamento e adaptação que atrasam o crescimento e consomem recursos preciosos. Esperar que o sistema educacional tradicional resolva isso não é uma opção para quem precisa de resultados para ontem.
Para destravar o crescimento, o líder precisa se tornar um arquiteto de talentos. A solução está em construir um sistema interno ou buscar parceiros para uma qualificação contínua, baseada em três pilares práticos:
- Abrace o aprendizado contínuo (lifelong learning): A formação deixou de ser um evento pré-emprego para se tornar parte da operação. Líderes de mercado já entenderam isso: o Fórum Econômico Mundial aponta que quase 90% das empresas planejam requalificar ativamente sua força de trabalho. Em vez de apenas contratar, as empresas mais inteligentes estão constantemente desenvolvendo os talentos que já têm, aumentando o engajamento e a produtividade.
- Contrate por skill stacks, não por diplomas: A nova moeda do mercado é o portfólio de competências. Em vez de focar apenas na graduação, procure por profissionais que construíram “pilhas de competências” (skill stacks): a combinação de sua formação de base com habilidades práticas em análise de dados, gestão de projetos ágeis e, principalmente, soft skills, como comunicação e resolução de problemas. O diploma é a base; a “pilha de competências” é o que constrói o diferencial.
- Crie pontes reais com o mercado: O modelo mais eficaz de qualificação é aquele que simula a realidade. Busque parceiros educacionais que cocriam seus programas com empresas, utilizem projetos práticos e focam obsessivamente em entregar profissionais prontos para gerar resultados. O objetivo de qualquer treinamento deve ser claro: reduzir o tempo de adaptação e aumentar o retorno sobre o investimento em cada novo colaborador.
A responsabilidade por construir a equipe do futuro não pode mais ser terceirizada. O apagão de talentos não é um problema de mercado para ser observado, mas um desafio de gestão para ser resolvido. Os empreendedores que entenderem que seu maior produto é a qualificação contínua de seu time não apenas sobreviverão à mudança estrutural do trabalho — eles a irão liderar.
Davi Braga é fundador e CEO da Uneed.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato


