O franchising no Brasil nasceu como solução para padronizar negócios, ganhou força com a criação de uma legislação específica e se consolidou como um ecossistema em busca constante de inovação.
Essa trajetória tem sido acompanhada de perto por Claudia Bittencourt, sócia-fundadora e presidente do Conselho Consultivo do Grupo Bittencourt. Com 40 anos de atuação no setor, a empresária acaba de lançar o livro “Franchising – A revolução das estratégias de expansão dos negócios no mundo digital”, publicado pela Editora IINF (Instituto de Inteligência em Negócios e Franchising).
Com abordagem prática, a obra detalha estratégias de gestão, explica aspectos jurídicos e mostra como os formatos de franquias se expandiram ao longo do tempo. Também evidencia a contribuição do franchising para a formalização de pequenos negócios e para a redução da mortalidade de empresas no País.

Primeiros passos
Claudia iniciou a carreira em uma grande companhia, onde se especializou em organização, métodos e criação de manuais. Quando a empresa encerrou suas atividades, decidiu empreender como consultora e encontrou no franchising um campo em plena transformação, que demandava estrutura e padronização.
Ela conta que as primeiras empresas a enxergarem no franchising um modelo eficiente de expansão foram as do setor de alimentação, como McDonald’s e Amor aos Pedaços. Apesar do entusiasmo inicial, a ausência de regras claras criava insegurança e dificultava a profissionalização do mercado. Esse cenário começou a mudar em 1987, com a criação da Associação Brasileira de Franchising (ABF), e se consolidou em 1994, com a Lei de Franquias. “Foi aí que começou a haver uma depuração do sistema”, resume.
O segundo grande movimento ocorreu quando o varejo, especialmente o de moda, aderiu ao modelo. Marcas como Hering e Marisol passaram a ter atuação direta com o consumidor final, abrindo lojas próprias e franqueadas. Mais uma vez, não sem ruídos: inicialmente, as multimarcas temeram perder vendas. Com o tempo, diz Claudia, perceberam que o aumento da visibilidade de marcas e produtos poderia ajudar a movimentar as lojas e a aumentar a receita. Muitas delas se tornaram franqueadas também.
Aliado da formalização de PMEs
Ao longo do tempo, o franchising se mostrou um aliado da formalização e da sobrevivência dos pequenos negócios no Brasil. A variedade de formatos que passou a ser oferecida pelas marcas – de lojas de rua a lojas de shoppings, de quiosques a carrinhos —, tornou o modelo acessível a empreendedores de perfis variados. “Hoje, um pequeno empresário pode ter um carrinho de sorvete de uma marca reconhecida e já contar com marketing, processos e sistemas estruturados. Algo que ele, sozinho, não teria condições de construir”, destaca Claudia.
O modelo incorporou soluções omnichannel e, recentemente, deixou de ser apenas um canal de expansão para se transformar em um ecossistema de negócios. Redes passaram a se conectar com fornecedores, indústrias e empresas de tecnologia, criando vínculos de interdependência que fortalecem toda a cadeia.
Essa maturidade trouxe, também, desafios. O maior deles é a necessidade de constante inovação. Muitas empresas, conta Claudia, não resistiram. “A inovação é fundamental para as marcas continuarem sendo relevantes e importantes para seus clientes. Muitas empresas cresceram muito, ganharam muito dinheiro, mas deixaram de inovar e perderam espaço no mercado. E, quando uma marca perde, ela leva todos os franqueados juntos com ela.”
Essa inovação, diz a executiva, passa por não só acompanhar as tendências e evoluções tecnológicas, mas também por fornecer suporte e treinamento para os franqueados e cuidar do atendimento ao cliente.
Nos últimos anos, ela se dedicou a consolidar um conceito que reflete a nova fase do setor: o Franchising Consciente. Inspirada no movimento do Capitalismo Consciente, a proposta incentiva redes a cuidarem do meio ambiente, dos stakeholders e da sociedade, para se manterem relevantes para as próximas gerações. “É um trabalho de formiguinha, mas essencial para que o franchising continue crescendo de forma sustentável e inovadora”, conclui.
Imagens: Envato e Divulgação



