A expansão do comércio eletrônico abriu espaço para um crime que tem se multiplicado em todo o País, o chamado golpe da entrega. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, esse tipo de crime aumentou 17% somente em 2024.
A estratégia dos criminosos é se aproveitar da expectativa pela chegada de encomendas. O golpe começa com o envio de mensagens por SMS, WhatsApp ou e-mail, em nome de transportadoras ou grandes empresas do varejo online, informando uma suposta pendência.
Em alguns casos, criam sites falsos de rastreamento ou fazem ligações se passando por centrais de atendimento. A vítima é induzida a clicar em links falsos, pagar taxas inexistentes ou baixar aplicativos maliciosos, que podem roubar dados e abrir caminho para prejuízos financeiros.
“O novo golpe favorito dos criminosos é aquele que usa a sua ansiedade pela entrega para roubar seus dados e seu dinheiro”, afirma Gustavo Torrente, head de B2B da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista).
Torrente destaca que o golpe da entrega atinge desde jovens conectados até idosos, mas que há um fator em comum, que é a expectativa real de receber uma entrega. “É um golpe cada vez mais sofisticado, com aparência legítima e uso indevido da identidade visual de grandes marcas. Muitas vítimas estão, de fato, aguardando algo comprado pela internet, o que aumenta a chance de acreditarem na fraude”, explica.
As formas mais frequentes de abordagem são:
- WhatsApp ou SMS com links suspeitos. Exemplo: “Sua encomenda não pôde ser entregue. Clique para reagendar”;
- E-mails falsos imitando empresas como Amazon, Correios, Jadlog;
- Sites falsos de rastreamento com logotipos de transportadoras
- Em alguns casos, há até ligações telefônicas simulando centrais de atendimento.
Quadrilhas organizadas desafiam investigação
Alguns golpes são isolados, praticados por golpistas oportunistas, mas o que mais preocupa são as quadrilhas especializadas que atuam com estrutura profissional, sites falsos, perfis em redes sociais, envios em massa de mensagens e até call centers falsos.
“O desafio está na velocidade da fraude: muitas vezes o golpe acontece em questão de horas, dificultando o rastreamento em tempo real”, diz Torrente.
Diversas operações já foram deflagradas em estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, com prisões de quadrilhas envolvidas em fraudes logísticas. Em muitos casos, trata-se de grupos organizados, com atuação nacional e estrutura para lavagem de dinheiro e criação de sites falsos.
Em São Paulo, a Secretária de Segurança Pública informou, por meio de nota, que intensificou o trabalho de combate aos golpes aplicados, incluindo os crimes envolvendo entregas.
Mesmo com unidades especializadas, como a Divisão de Crimes Cibernéticos e a 2ª Delegacia de Investigações sobre Estelionatos e Crimes Contra a Fé Pública, qualquer delegacia do Estado pode receber queixas e investigar crimes dessa natureza. “O estelionato passou a ser registrado também pela Delegacia Eletrônica em 2020, o que auxiliou na diminuição da subnotificação dos casos e, consequentemente, no aumento dos registros”, diz a nota da SSP.
Alerta aos consumidores
Entre as empresas mais visadas está a Jadlog, alvo de tentativas de phishing em que golpistas informam que uma remessa estaria bloqueada e exigem pagamento para o desbloqueio.
Diante do aumento de casos, a empresa tem realizado campanhas de comunicação nas redes sociais, nos portais e nas áreas de pesquisa de rastreamento, que buscam alertar amplamente e conscientizar os usuários sobre as tentativas de golpes nas diferentes modalidades.
“Estamos muito empenhados em combater os ataques dos cibercriminosos e alertar os consumidores, por isso realizamos diversas campanhas avisando amplamente sobre existência de fraudes e golpes através de várias ativações”, conta Alexandro Strack, CIO da Jadlog.
A companhia afirma que toda a comunicação legítima ocorre apenas pelos canais institucionais (jadlog.com.br e perfis oficiais nas redes sociais) e que investe em segurança da informação em conformidade com a LGPD.
A Amazon também reforçou o alerta aos seus usuários e diz estar colaborando com autoridades brasileiras e órgãos de proteção ao consumidor para prevenir fraudes.
“Estamos investigando o tema, mas, até o momento, não temos evidências de nenhum evento contra a segurança dos sistemas da Amazon”, informou por meio de nota.
A Amazon alerta que, ao receber links suspeitos solicitando dinheiro ou dados pessoais, o consumidor não deve clicar nem compartilhar informações. A orientação é acessar diretamente a conta no site oficial da empresa para confirmar qualquer pedido. Mais detalhes sobre como identificar fraudes e denunciar golpes estão disponíveis no portal da Amazon.
Como se proteger
O Procon-SP alerta que os consumidores devem redobrar a atenção ao receber mensagens sobre entregas. A recomendação é não clicar em links recebidos por aplicativos de mensagem, sempre verificar o status da entrega diretamente nos canais oficiais das empresas e desconfiar de cobranças adicionais não previstas no momento da compra.
Em caso de fraude, o órgão orienta registrar boletim de ocorrência e informar imediatamente o banco ou a administradora do cartão caso haja movimentação financeira suspeita.
O Procon-SP disponibiliza ainda uma página chamada “Evite Esses Sites”, com uma lista de endereços que já tiveram reclamações de consumidores e não responderam às notificações ou não puderam ser localizados. A lista pode ser consultada neste link: https://sistemas.procon.sp.gov.br/evitesite/list/evitesites.php
Confira algumas medidas de proteção:
- Desconfiar de mensagens que transmitam urgência ou cobrem valores inesperados;
- Nunca clicar em links de remetentes desconhecidos;
- Confirmar o status da entrega nos canais oficiais da empresa;
- Usar antivírus e manter o sistema atualizado;
- Em caso de dúvida, entrar em contato diretamente com a transportadora.
Imagem: Envato


