O varejo e o comércio brasileiros enfrentam desafios que são globais, como a concorrência com os grandes marketplaces asiáticos, e outros que são muito particulares, como o crescimento do gasto dos consumidores com as bets, como são chamadas as casas de apostas virtuais. As oportunidades, porém, também estão postas, como aquelas oferecidas pelas marcas próprias, pela internacionalização, pelos serviços financeiros e – claro – pela Inteligência Artificial (IA).
“É inegável que nós estamos vivendo um tsunami de mudanças no cenário global. E, se já era um tsunami numa escala 5, depois da posse do Trump subiu pra 10”, comenta Marcos Gouvêa de Souza, diretor-presidente da Gouvêa Ecosystem e publisher da Mercado&Consumo. Ele participou nesta semana do Abiesv Insights, evento promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo (Abiesv) em São Paulo. “Hoje, quem não estiver muito sintonizado com aquilo que acontece na Ásia e no Pacífico está perdendo muito mais do que a metade da história. Inegavelmente, os movimentos que acontecem por lá, com uma lógica própria totalmente diferente, precipitam as transformações que estão chegando aqui no nosso quintal, ou na nossa garagem.”
O Abiesv Insights reuniu executivos, especialistas e líderes empresariais para discutir tendências que já estão redesenhando o setor e teve a Mercado&Consumo como media partner.
Crescimento da Ásia
Gouvêa de Souza destaca que, enquanto o mundo ocidental se vê em meio a uma polarização exacerbada, o mundo oriental, em especial a China, se desenvolve rapidamente. A aproximação e a integração dos países asiáticos começam na área política e evoluem para a área econômica, gerando crescimento acelerado. “Esse crescimento está transformando o mundo.”
O varejo brasileiro pode responder a essa nova realidade se atentando a tendências como monitoramento do comportamento de consumidor, avaliação de satisfação, customização e personalização. “Não percam de vista que o que está acontecendo lá vai chegar ou já está chegando em uma velocidade muito grande na nossa própria realidade”, alerta.
Desafios
Emprego
Marcos Gouvêa de Souza destaca que o varejo e o comércio, hoje, têm muita dificuldade para encontrar mão de obra. Para ele, parte dessa dificuldade se deve ao programa Bolsa Família, que, ao passo que beneficia 21 milhões de famílias brasileiras, ou cerca de 54 milhões de pessoas, retira-as do mercado formal de trabalho. “São 54 milhões de pessoas, ou um quarto do Brasil, que não podem trabalhar formalmente. Só podem fazer bicos e viver na informalidade. Não estamos falando, de forma nenhuma, de eliminar o Bolsa Família, que é muito importante. Mas ele precisa evoluir, e rápido.”
Concorrência
Outro desafio pelo varejo e do comércio é o crescimento da concorrência. O movimento da indústria criando canais de venda diretamente com o consumidor, o chamado DTC (Direct to Consumer), é um exemplo disso. É o que é feito, há mais tempo, pelas fabricantes de smartphones, como Samsung e Apple. Ou por outras indústrias de bens de consumo, como a Omo, que tem mais de 3 mil unidades da lavanderia de autosserviço que leva o nome da marca.
Bets
O crescimento dos gastos em casas de apostas virtuais, que não é exclusividade do Brasil, é outro desafio dos setores de varejo e comércio atualmente. As bets têm impactado o consumo, porque parte do dinheiro que seria gasto nas lojas é usada em apostas. Além disso, têm gerado endividamento. Dados divulgados pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que 40% dos brasileiros já viram familiares ou pessoas próximas fizeram dívidas por conta das apostas. “Do dinheiro que entra nas bets, o que volta para o mercado é uma parcela ínfima”, destaca Gouvêa de Souza.
Plataformas internacionais
Outro desafio crescente é a entrada dos marketplaces internacionais, como AliExpress, Shopee, Shein e Temu, que chegaram movimentando o mercado. “Tudo isso está criando um cenário em que a concorrência está muito mais acirrada.”
Oportunidades
Serviços financeiros
A oferta de serviços financeiros para o consumidor final é uma oportunidade para a qual uma parte do varejo já olha, como Riachuelo e Renner. As empresas têm criado negócios apartados focados na oferta de crédito para os clientes. Em muitas, parte significativa do lucro vem, justamente, desses serviços.
Marcas próprias
A criação de marcas próprias também tem se mostrado acertada para muitos varejistas, como redes de farmácias e de supermercados. Em artigo publicado nesta semana na Mercado&Consumo, Marcos Gouvêa de Souza destaca que elas “significam a natural evolução para as empresas do setor que buscam diferenciação, fidelização e melhoria da rentabilidade”.
Internacionalização
“Algumas empresas têm feito um trabalho extremamente interessante quando se fala em internacionalização”, destaca o executivo. A Renner, por exemplo, tem operações na América do Sul; a Track&Field, nos Estados Unidos; a Granado, na Europa e também nos EUA. “Nós temos competência, conhecimento e capacidade de estar mais lá fora do que estamos hoje”
IA
Por fim, Gouvêa de Souza destaca a integração da Inteligência Artificial (IA) como outra grande oportunidade para o varejo. A IA precisa estar em tudo o possa melhorar e diferenciar a oferta. Além disso, ajuda o varejo a atender à necessidade de racionalizar, simplificar e reduzir custos.
Imagem: Mercado&Consumo