As preferências de marca mudam sob pressão financeira, mostrando que, embora muitas líderes de mercado mantenham posições de destaque, seus percentuais de preferência e consumo se ajustam ao cenário econômico, segundo a pesquisa “Escolhas sob Pressão”, realizada pela MindMiners.
Mesmo em um cenário sem restrições, a Sadia aparece com 21% da preferência dos brasileiros, liderando a categoria de alimentos. Esse percentual, no entanto, recua para 6% diante de limitações financeiras. A Nestlé cai de 13% para 3,5%, a Perdigão de 11% para 4,5% e a Seara de 8% para 5%. No mesmo período, marcas como Aurora ganharam espaço, entrando no top 5 de consumo.
“Estamos diante de um consumidor mais racional e estratégico, que não deixou de consumir, mas passou a fazê-lo com muito mais critério. A decisão de compra hoje passa por filtros como necessidade real, custo-benefício e impacto no orçamento. É uma mudança que exige das marcas mais sensibilidade, escuta ativa e capacidade de oferecer valor de forma acessível”, analisa a CMO da MindMiners, Danielle Almeida.
No setor de bebidas, a Coca-Cola segue como líder, mas passa de 26% para 10% na preferência efetiva. A Heineken recua de 6% para próximo de zero no ranking atual, enquanto a Antarctica mostra maior estabilidade (de 4% para 3,5%).
Em beleza, O Boticário mantém a liderança, mas com queda de 15,5% para 7%, seguido pela Natura (de 14% para 9%). A Avon, por sua vez, amplia sua participação de 7% para 9%, possivelmente apoiada em seu modelo de vendas diretas e relacionamento próximo com o consumidor.
No setor de moda, Renner (de 10% para 6%), C&A (de 9% para 6%) e Riachuelo (de 8% para 5%) permanecem entre as preferidas, embora com variações. Já plataformas digitais como Shein (4%) e Shopee (4%) ampliam sua presença no consumo atual.
Renda
O estudo mostra que 60% dos respondentes vivem com até três salários mínimos, 27% possuem renda variável sem estabilidade mensal e 22% relatam alta instabilidade. Nos últimos seis meses, 61% afirmam que a renda permaneceu estável (o que não significa tranquilidade), 19% sofreram queda e apenas 20% registraram aumento.
A maioria da população vive em um cenário de aperto ou equilíbrio frágil, com apenas uma minoria conseguindo poupar. As mulheres têm maior percepção de perda de renda e se declaram mais endividadas, reflexo de uma combinação de fatores estruturais, papéis sociais e maior sensibilidade à dinâmica doméstica e financeira.
Segundo os dados, 94% dos consumidores percebem que os preços subiram nos últimos meses. Como estratégia de adaptação, os brasileiros ajustam os gastos, substituem produtos por marcas mais baratas, reduzem o consumo e, em último caso, cortam totalmente o uso.
Em números, a troca por marcas mais acessíveis é a principal estratégia em quase todas as categorias de consumo, atingindo 62% em alimentos, 57% em beleza, 38% em saúde e 30% em transporte. Cortes totais são menos frequentes, mas aparecem com força em lazer e cultura (25%) e transporte (12%). A redução de frequência também é relevante, especialmente em lazer, transporte e alimentação.
Parcelamento
O estudo aponta ainda que o parcelamento e o crédito se tornaram ferramentas essenciais de sobrevivência financeira. Entre os entrevistados, 57% possuem algum tipo de dívida ativa, sendo o cartão de crédito o principal (36%), seguido por empréstimos pessoais (19%) e contas atrasadas (15%).
Nos últimos 12 meses, 31% recorreram a alguma linha de crédito, em sua maioria não para investir ou crescer, mas para evitar maiores dificuldades. O uso principal é para quitar dívidas e manter despesas básicas, reforçando a vulnerabilidade financeira e o papel do crédito como “último recurso” para garantir estabilidade mínima.
Entre os gatilhos para o endividamento estão: 26% usam as economias para cobrir gastos básicos, 25% enfrentam imprevistos com saúde ou educação, 16% não conseguem arcar com despesas essenciais e 9% terminam o mês com muito pouco dinheiro. Além disso, 46% não possuem nenhum tipo de planejamento financeiro, 25% até planejam, mas têm dificuldade de seguir, e apenas 29% conseguem se organizar efetivamente.
Apenas 20% contam com uma reserva financeira significativa (mais de seis meses sem renda), enquanto 44% não possuem nenhuma reserva, revelando uma base estrutural frágil para enfrentar imprevistos.
As classes C e D estão mais propensas a cortes totais em determinadas categorias, pois operam com orçamentos mais restritos, nos quais qualquer variação de preço, renda ou gasto inesperado impacta diretamente a rotina.
Imagem: Envato




