Durante muito tempo, a robustez industrial foi suficiente para garantir relevância: capacidade produtiva, padronização, eficiência logística. Era disso que se tratava, e, em alguma medida, ainda é. Mas, no foodservice de hoje, o peso da marca não se mede apenas em volume; mede-se em intenção, significado e presença percebida.
A verdade é que a cadeia evoluiu. O operador deixou de olhar apenas para o custo do insumo e passou a considerar o que ele representa, para o cardápio, para a percepção do consumidor, para a reputação da casa. E o consumidor, cada vez mais participativo na decisão, quer consumir marcas que façam sentido, inclusive naquelas que não aparecem diretamente na vitrine. Nesse novo ecossistema, a indústria que ainda opera unicamente pela lógica do fornecimento técnico perde o bonde da construção de valor.
Não é mais sobre ser a engrenagem mais produtiva; é sobre ser o parceiro mais estratégico. Aquele que entende a jornada do operador, participa do raciocínio por trás de uma escolha de ingrediente, antecipa sazonalidades, colabora com storytelling. O diferencial competitivo, hoje, está em combinar escala com escuta, eficiência com afeto, padronização com propósito.
E esse equilíbrio não exige ruptura; exige intenção: reposicionar o discurso, ampliar o repertório, estreitar o vínculo com quem está na linha de frente do consumo. Porque a performance hoje não se mede apenas no giro; mede-se na capacidade da marca de fazer parte do repertório emocional do consumidor, mesmo que indiretamente.
O desafio da indústria está em traduzir sua grandeza operacional em grandeza relacional. E isso não se faz apenas com preço ou disponibilidade; faz-se com presença simbólica, com contexto, com contribuição genuína à construção de experiências memoráveis.
A pergunta que fica, portanto, não é apenas se sua marca é eficiente: é se ela faz falta quando não está, e se é lembrada quando o cliente volta.
Danielle Garry é presidente do IFB Brasil.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato
