Os ‘ismos’ do marketing: as modas passageiras que prometem as soluções definitivas para todos os problemas

Os ‘ismos’ do marketing: as modas passageiras que prometem a solução definitivas para todos os problemas

No mais do que dinâmico universo do marketing e da publicidade, uma tendência recorrente parece se repetir: o surgimento de ferramentas ou metodologias que prometem resolver definitivamente a maioria dos problemas de uma marca de uma só vez.

Em muitos casos, esses modismos, que chamarei de ‘ismos’, surgem como milagres do marketing moderno, trazendo a solução para quase todos os problemas empresariais do momento — uma oferta praticamente irresistível para qualquer marqueteiro, especialmente em um cenário competitivo cada vez mais complexo.

Porém, não raramente, essas soluções são específicas — e não generalistas — e são adotadas de forma precipitada, muitas vezes sem sequer estarem alinhadas à real necessidade da empresa ou ao desafio enfrentado. É quase como um movimento de ingenuidade coletiva, em que o brilho da inovação cega a análise crítica: ‘Se todo mundo está usando, deve ser a solução perfeita, certo?’ Errado.

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“A indústria do marketing tem um histórico de saltar de um ‘ismo’ para outro, com promessas que, muitas vezes, resultam em pouco mais do que um hype passageiro e investimentos mal direcionados. De metaversos a chatbots, de gamificação a personalização exagerada, vemos ciclos de moda em que o novo é sempre a aposta certeira — até que se prove o contrário.

Nesta lista, exploraremos alguns desses ‘ismos’ que dominaram a indústria publicitária e de marketing nos últimos anos, mostrando como o entusiasmo muitas vezes supera a estratégia, e como a ferramenta do momento pode acabar sendo apenas uma distração dos reais desafios de uma marca

Metaversismo

O metaverso surgiu como a grande promessa de uma nova era digital. Empresas investiram milhões em ambientes virtuais, acreditando que todos nós viveríamos nesses mundos digitais em paralelo ao mundo real. O varejo se assustou com a necessidade; tanto que na NRF pós-pandêmica de 2022, as palestras foram de um jeito ou de outro sobre o tema. O resultado? Um número ínfimo de marcas conseguiu justificar o investimento, e a maioria percebeu que o metaverso, embora fascinante, não era a solução universal esperada.

Talvez o maior beneficiado desse “ismo” foi o segmento das marcas de luxo, que teve dinheiro para explorar o território virtual e fortalecer a imagem.

Gamificationismo

A promessa de que adicionar elementos de jogos a todas as plataformas e experiências iria aumentar o engajamento e a lealdade parecia infalível. No entanto, o uso indiscriminado da gamificação muitas vezes resultou em consumidores confusos ou desinteressados, levando ao abandono dessa “solução mágica”. E colocou uma pá de cal generalista nessa ferramenta.

Ela é sim uma solução, mas não para todos os segmentos e marcas.

QR-Codismo

Em um momento, os QR Codes estavam em toda parte. De campanhas publicitárias a rótulos de produtos, a ideia era de que eles seriam a ponte perfeita entre o mundo físico e digital.

Mais do que isso, que fossem a interface definitiva de diálogo entre marcas e usuários. Mas, na prática, a adesão foi lenta e, na maioria das vezes, os códigos eram ignorados pelos consumidores. E ainda o são. Parece que só agora é que os QR Codes estão se popularizando, pelo menos 5 aos depois.

Influencerismo

Durante um período, ter um influencer promovendo sua marca parecia ser a chave para o sucesso e o passo dado para publicidade no século 21. Independentemente da relevância ou autenticidade, as marcas correram atrás de influenciadores com grandes números de seguidores, inflacionando o mercado e criando um monstro não só para si mesmas, mas também para o mercado e a sociedade.

Atualmente, o valor percebido dessa prática tem sido questionado, com o foco voltando-se para a autenticidade e para influenciadores de nicho.

Viralismo

O sonho de criar um conteúdo viral que se espalhasse como fogo pela internet fez muitos profissionais de marketing acreditarem que o sucesso dependia exclusivamente de alcançar essa explosão de popularidade. Clientes pedem campanhas virais para suas agências, como se elas pudessem ser projetadas em uma prancheta, com uma fórmula pré-pronta.

Vi muito cliente anunciante retirando a sua conta publicitária de uma agência por não ter “emplacado” uma campanha viral. Essa é uma atitude “mirim” dos anunciantes, pois eventos virais são objeto de estudo em todas as universidades de comunicação e marketing do mundo, já que ninguém sabe ao certo por que viralizou.

Claro que, aqui e ali, é possível romper artificialmente a barreira do viral, mas, ao certo, ninguém sabe como isso acontece.

Personalizationismo

A personalização exagerada foi outra febre. A ideia era que, ao personalizar tudo, desde o conteúdo até as promoções, os consumidores se sentiriam mais conectados à marca. Mas o excesso de personalização começou a incomodar e levantar questões sobre privacidade e confiança.

A LGPD veio como pata de elefante na tendência e exterminou de vez a curiosidade em torno do tema.

Chatbotismo

No auge do entusiasmo pela IA, os chatbots foram vendidos como a solução definitiva para o atendimento ao cliente. Mas a falta de personalização e respostas genéricas acabaram frustrando mais os consumidores do que ajudando, levando muitas empresas a reavaliar essa tecnologia.

Com o desenvolvimento da IA generativa, os chatbots começam somente agora a ser uma solução mais completa. Mesmo assim, enfrentam barreiras como o preconceito de usuários em falar com robôs, mesmo que superrobôs, e a ausência de um investimento que comprove ROI na tecnologia.

Blockchainismo

A tecnologia blockchain foi amplamente vendida como a solução para tudo, desde a transparência em cadeias de suprimentos até a segurança dos dados dos consumidores. Contudo, para muitas marcas, a implementação prática se mostrou cara e desnecessária, e o entusiasmo esfriou.

Esses “ismos” são apenas uma amostra de como o marketing e a publicidade são suscetíveis a modismos que, por um momento, parecem a resposta definitiva.

Eles lembram que a verdadeira inovação nem sempre está na ferramenta mais recente, mas sim na estratégia sólida, focada nas reais necessidades da marca e de seu público.

Nunca me esqueço das palavras de um varejista do interior de São Paulo, que mais de 26 lojas espalhadas pelo Estado voltadas à classe C e D, faturando quase R$ 500 milhões por ano. Ele pouco se entusiasma com esses modismos. Disse ele: “No meu varejo, a barriga no balcão faz a gente criar e inventar ferramentas de verdade para o negócio. Sabe que, ainda em alguns casos, permito algumas vezes aquele caderninho de fiado?”

Ulisses Zamboni é chairman e sócio-fundador da Agência Santa Clara.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.

Imagem: Shutterstock

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