O que esperar do consumidor pós-pandemia

Uma pergunta que desde o ano passado ronda a mente dos empresários é: quem será o consumidor do pós-pandemia? Não é que muita coisa tenha mudado desde a primeira onda do vírus, mas o que temos agora é um pouco mais de informações sobre esse tema.

Desde o início do fechamento dos negócios e do começo do “fique em casa”, há uma incerteza sobre os impactos dos novos comportamentos adotados pelas pessoas no consumo. Temos agora acesso a um grande volume de pesquisas, ensaios e teorias levantadas. Analisei algumas delas, consolidando os aprendizados que tive ao ler e assistir palestras de empresas como Oracle, Mosaiclab e WGSN e trago aqui algumas pistas sobre essa grande indagação.

Para trazer um pouco de histórico, algo que ficou muito forte no período da pandemia foi uma sensação de ansiedade e isso fez com que emergisse uma necessidade grande das pessoas resgatarem algum controle sobre os aspectos que circundam suas vidas.

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Como tudo foi tirado de ordem, essa vulnerabilidade tremenda fez com que algumas preocupações ficassem mais latentes e modificaram o “humor” das pessoas. Desde a preocupação com os problemas ambientais, como mudança climática e preservação ambiental, até questões políticas como corrupção – além, é claro, de crises econômicas que inevitavelmente passaram a causar mais pobreza e aumento da desigualdade social.

Consumo ativista

Entre tantas incertezas e preocupações genuínas, nasceu também uma necessidade de busca de positividade e esperança quanto a um futuro melhor. Consciente da sua capacidade de influenciar o ambiente e de poder fazer parte da solução, não foi incomum ver um engajamento mais forte em causas sociais e de cobrança de ação por parte das empresas. Eles querem ter mais do que um produto ou serviço como motivo para consumir de uma determinada marca; eles querem um porquê.

Busca de estabilidade

Também devido à incerteza, as pessoas estão buscando conforto no que é estável, previsível e seguro – como reflexo de um desejo latente de estabilidade e segurança. E esse desejo do que é previsível fez com que elas também tivessem um olhar muito cuidadoso com o que vem de dentro. Ou seja, a saúde emocional, o equilíbrio da vida pessoal com a profissional (que, diga-se de passagem, em tempos de home office ficou completamente com os limites embaraçados e confusos), segurança física e emocional, desejo de estabilidade e segurança. Isso tudo para, no fim, manter a sanidade.

Receio em consumir

Neste cenário, é possível entender que o impacto no consumo é certo. As pesquisas mostram que as pessoas agora tendem a ter motivação cautelosa quanto ao consumo. Querem que tudo volte ao normal, mas ainda têm medo de consumir. Todas essas preocupações fazem com que assumam uma mentalidade recessiva, e mesmo aquelas que têm reservas têm agora cautela para gastar. Algumas pesquisas já revelaram que o impacto disso apareceu até mesmo na taxa de abandono dos carrinhos no e-commerce. Com a atenção dividida entre casa, família, trabalho, tudo ao mesmo tempo, os carrinhos foram mais abandonados durante a pandemia (vale ressaltar que, ainda sim, a representatividade do online subiu de forma vertiginosa).

Foco no relacionamento 

De uma forma geral, a dica para as marcas é criar laços emocionais e construir relacionamento pessoal. Com essa carência de estabilidade, elas podem ajudar as pessoas a assumirem de volta o controle de suas vidas e removerem o stress com coisas simples do dia a dia, como, por exemplo, reabastecer itens que já acabaram por meio de um processo de auto-refill – estratégia por meio da qual, com um entendimento claro do comportamento de compra do consumidor, a empresa pode identificar quando um determinado produto está prestes a acabar e já oferecer a reposição, ou mesmo nunca deixar que ele acabe, oferecendo serviços de assinatura.

Outra forma de criar laços é cumprir com os acordos firmados ou assumir responsabilidade pelo impacto que causam no Planeta – seja com ações para neutralização de carbono, seja com a reciclagem de produtos e a adoção efetiva de uma estratégia de economia circular. Atenuar a culpa pelo consumo pode ser, sim, uma bela forma de aproximação. Afinal, a população espera algum retorno das empresas para solução de alguns problemas, uma vez que o consumo delas é o que fomenta os lucros das companhias.

Lyana Bittencourt é CEO do Grupo BITTENCOURT.
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo

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