A confiança é o ativo mais valioso que um líder pode cultivar, nos negócios e nos relacionamentos. Recentemente, conduzi, junto com a Eli Kioko, um workshop em que reunimos executivos de diferentes setores: indústria, varejo e serviços. Apesar das diferenças de mercado, percebemos algo em comum: todas as empresas, sem exceção, enfrentam o mesmo dilema silencioso na gestão de suas equipes: como quebrar silos, acelerar decisões e engajar pessoas de forma genuína, ao mesmo tempo que almejam a busca por eficiência e resultados. É aí que entra a confiança como alavanca de crescimento.
Stephen M. R. Covey nos lembra que confiança é a soma de competência + caráter. Quando existe confiança, tudo flui com mais rapidez: decisões são tomadas com clareza, os custos diminuem, a inovação ganha espaço. Quando ela falta, os processos se arrastam, as reuniões são intermináveis, os emails se multiplicam e o custo invisível da desconfiança corrói o resultado.
O mais provocador é que a confiança não é um conceito abstrato. Ela é mensurável, pode ser construída, fortalecida e até reconquistada. Em ambientes de alta confiança, líderes e equipes têm coragem de colocar os assuntos difíceis na mesa, sem máscaras nem agendas pessoais ocultas. E esse é o verdadeiro catalisador de performance: confiança inspira, motiva, conecta e cria um círculo virtuoso onde empresas crescem e pessoas se desenvolvem.
E isso não é discurso. A PwC mostrou em seu Trust Survey que 93% dos executivos acreditam que a confiança melhora o resultado financeiro. Ou seja, confiança não é um “ativo soft”: é diferencial competitivo.
O alerta do trust gap
A mesma pesquisa da PwC expõe um dado incômodo: existe um abismo entre o quanto os líderes acreditam que são confiáveis e o quanto colaboradores e consumidores realmente confiam neles. Esse trust gap é o combustível dos silos organizacionais, áreas que defendem suas verdades particulares em vez de buscar o melhor para o todo.
É aqui que entra o que Stephen M. R. Covey chama em a velocidade da confiança de “acelerador de negócios”. Quando a confiança é cultivada e a tolerância ao erro é fortalecida, a empresa reduz atritos, aumenta velocidade e cria um ambiente de transparência em que conversas difíceis podem ser feitas de maneira genuína.
Confiança como motor da colaboração
Colaborar não significa todo mundo fazer tudo junto. É cada área entregar sua competência máxima, conectada por um fio invisível de confiança. Em palestra da Advantage – que atua como elo estratégico entre indústria e varejo, impulsionando relacionamentos e crescimento por meio de melhores práticas colaborativas – ficou claro que confiança só se sustenta quando há comprometimento da liderança em dar o exemplo e sustentar a cultura de cooperação.
Quando isso acontece, os resultados são palpáveis:
- Alinhamento entre as áreas: expectativas e prioridades são discutidas com clareza e transparência, criando entendimento de todo o processo envolvido em uma relação comercial.
- Objetivos em comum (KPIs): metas e indicadores compartilhados permitem ajustes de rota com menos desgaste, acelerando resultados e favorecendo trocas de informações.
- Disciplina e governança: a comunicação contínua fortalece a execução, aumenta a acuracidade e dá eficiência, porque cada parte sabe exatamente como sua expertise contribui para o todo.
- Abertura para conversas difíceis: confiança prepara a empresa para tratar fricções de forma genuína, sem agendas pessoais ocultas, sempre com o foco em melhorar o conjunto.
- Uma só mensagem para fora: depois que o time entra em campo, não importando a área ou função, jogamos juntos, transmitindo consistência e credibilidade ao mercado.
- Celebração dos ganhos e das responsabilidades: quando conquistas são reconhecidas e responsabilidades assumidas, o engajamento cresce, o senso de pertencimento se fortalece e a colaboração se consolida.
No fim, confiança é o combustível que une competências diversas em direção a um objetivo maior, transformando colaboração em resultado de negócio.
Propósito, cultura e engajamento
O poder da confiança verdadeira nasce quando propósito e cultura estão claros. A Deloitte mostrou que 73% das pessoas já deixaram empregos por não se identificarem com a cultura ou pela falha dos líderes em promovê-la. O exemplo sempre vem de cima, sempre. Esse número não é apenas estatístico, é alerta vermelho: se propósito e confiança não estão alinhados, o custo é alto — em turnover, engajamento das equipes e, por fim, em reputação com os clientes.
O valor de aprender com os melhores
O mais interessante é que, apesar das diferenças entre indústrias, varejo e serviços, os desafios de confiança e colaboração se repetem em todos os setores. Quebrar silos, alinhar áreas em torno de KPIs comuns, criar espaço para conversas difíceis e consistência em transmitir uma mensagem única para o mercado são dores universais.
É justamente nessa similaridade que está a oportunidade. Quando executivos têm a chance de trocar experiências com empresas de outros segmentos ou aprender com os melhores cases do mercado, ampliam sua visão estratégica e aceleram os movimentos de transformação dentro de casa. Confiança, portanto, não é apenas uma alavanca de crescimento individual. É um ativo coletivo, que conecta líderes, empresas e setores em um ecossistema de aprendizado contínuo.
Alexandre van Beeck é diretor de Operações de Retail Media da ConvertaAds.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato