Nos últimos anos, empresas chinesas têm intensificado seus investimentos no Brasil, apostando em tecnologia e produção local para atrair consumidores e ampliar sua presença no mercado. Mais do que importar produtos, elas têm estabelecido fábricas e centros de inovação no País, oferecendo soluções adaptadas às demandas brasileiras, elevando a percepção de qualidade e desempenho.
No setor automotivo, a BYD exemplifica essa mudança. A fabricante de veículos elétricos e híbridos instalou em Camaçari, na Bahia, sua primeira fábrica fora da China, com capacidade inicial para produzir 150 mil carros por ano e previsão de dobrar esse número em um segundo momento.
“É a maior fábrica da BYD fora do País, e nosso objetivo é importar tecnologia e know-how, não apenas veículos”, diz Pablo Toledo, diretor de Comunicação e Branding da BYD.
A empresa opera atualmente com 190 concessionárias e espera chegar a 250 ainda neste ano. A BYD possui 80% do market share no Brasil: oito em cada dez carros elétricos vendidos e três em cada dez híbridos são da marca. As vendas cresceram rapidamente nos últimos anos: 260 veículos em 2022; quase 18 mil em 2023; 76 mil em 2024; e, até agora em 2025, 67 mil unidades.
“Quanto mais local for, mais global a gente será”
No setor de tecnologia móvel, a Jovi Mobile chegou ao Brasil em maio com produção local na Zona Franca de Manaus. A fábrica, a primeira fora da China, produz 1.200 aparelhos por dia, e a empresa já conta com mais de mil funcionários, cinco modelos lançados no País e 1.500 pontos de venda.
Parte do grupo BBK, fundado em 1995 e responsável por 1/5 dos smartphones do mundo, a Jovi tem como estratégia a adaptação dos produtos às necessidades regionais. “Quanto mais local for, mais global a gente será”, diz Jorge Gloss, diretor de Marketing da Jovi.
A produção ocorre em São Paulo, com capacidade inicial para mais de 100 mil aparelhos, e a empresa planeja expandir a operação para atender a diferentes regiões do País. Além dos produtos, a Jovi investe em serviços e suporte técnico, com pacotes que incluem proteção de tela, garantia estendida, substituição de bateria e revisões periódicas.
Mudança de percepção
Essa mudança tem provocado uma nova percepção sobre produtos chineses. Antes vistos como simples ou baratos, eles agora passam a ser associados a tecnologia avançada e durabilidade.
“Houve uma percepção de subestimar a indústria chinesa. Nosso produto é mais tecnológico e barato. Ficamos cansados de pagar mais por tudo. Ninguém estava preparado”, diz Toledo.
“Quebrar o mito de que tem um chinês específico. Capacidade de mudança rápida e de se replanejar. Não vai ser novidade a China fazendo parte do Brasil. Esse movimento está acelerando”, afirma Gloss.
Imagem: Mercado&Consumo