Efeito Trump sobre investimento verde deve ser temporário, mas há receios de retração

Ainda assim, há receio com o atual movimento de retração da participação de bancos em alianças climáticas.

A percepção de que os investidores em economia verde costumam olhar essencialmente para o médio e longo prazos leva à expectativa de que o “efeito Trump” sobre projetos ambientalmente sustentáveis será um choque apenas temporário, na avaliação de agentes ouvidos pela Estadão/Broadcast. Ainda assim, há receio com o atual movimento de retração da participação de bancos em alianças climáticas.

A Net-Zero Banking Alliance (NZBA), aliança global climática, sofreu sucessivas baixas com a retirada de instituições financeiras norte-americanas logo no começo de 2025. Esse foi o caso do Goldman Sachs e do Wells Fargo, seguidos de outros bancos ao longo do ano. Há ainda receio com a possível mudança das agendas de instituições financeiras multilaterais, incluindo Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Fundo Monetário Internacional (FMI) – dos quais os Estados Unidos fazem parte.

Apesar desses movimentos, o investimento em economia verde é, antes de tudo, visto como uma necessidade, sobretudo econômica, e não apenas uma obrigação para fins de cumprimento de metas climáticas. Essa visão é especialmente válida para o Brasil, aponta José Niemeyer, professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

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“O Brasil cada vez mais vai investir não apenas na biomassa como fonte de energia, mas também no hidrogênio verde, por exemplo. A economia verde está cada vez mais ligada à realidade brasileira, porque o Brasil é grande produtor agrícola”, disse o especialista. O argumento parte da premissa de alinhamento entre metas climáticas e a necessidade econômica de diferentes setores.

Para Arthur Ramos, diretor executivo e sócio da prática de Energia no Boston Consulting Group (BCG), o Brasil precisa ser cada vez mais apresentado como um “hub de soluções climáticas”. Além do custo de energia competitivo em comparação com outros países, bem como a matriz limpa e renovável, houve recentemente avanços na aprovação de leis que tendem a impulsionar os investimentos verdes.

A lei do “combustível do futuro” é um dos principais exemplos. O normativo busca ampliar a oferta de biocombustíveis, com impactos nos segmentos de biodiesel, biometano, etanol e combustível sustentável de aviação (SAF). “Um investidor naturalmente preferia estar em um horizonte em que não tivesse essa turbulência geopolítica, mas quem está olhando o longo prazo, vai perguntar: ‘onde eu coloco uma planta, com fonte renovável?’ Nisso o Brasil é favorecido”, avalia Ramos.

Na Amazônia Legal, por exemplo, um diagnóstico sobre o financiamento da bioeconomia, publicado nesta semana, mostrou que há 159 mecanismos financeiros e 111 instituições que atuam na região neste segmento. O estudo foi lançado a partir de uma parceria entre a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), a rede Uma Concertação pela Amazônia, a Frankfurt School of Finance and Management e a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

O levantamento, contudo, aponta que o alcance do financiamento ainda precisa ser ampliado, pois há fragmentação das iniciativas, além de pontos como dificuldades logísticas e fundiárias, ou taxas de juros incompatíveis com o tempo de retorno dos negócios de base comunitária. O estudo recomenda a criação de uma estratégia nacional de financiamento à bioeconomia, “capaz de articular fontes públicas, privadas, filantrópicas e multilaterais, estabelecer prioridades territoriais e fortalecer a presença de financiadores junto a comunidades locais”, segundo o comunicado divulgado.

A consultoria Boston Consulting Group (BCG) mostra que o Brasil pode atrair entre US$ 2,6 trilhões e US$ 3 trilhões em investimentos com o compromisso de empresas brasileiras em zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2050. Arthur Ramos, diretor executivo da consultoria, é também um dos organizadores do Brazil Climate Summit, que neste ano volta a ser realizado em Nova York (EUA), em 19 de setembro. A máxima é apresentar para investidores internacionais “o potencial do Brasil como um polo global de produtos industriais verdes”.

“Há um ambiente global em que o multilateralismo está sendo desafiado e o comércio internacional ficou mais complexo. Mas, onde você vai ter soluções, de biomassa, biometano, redução de emissões mais rápidas? Se a redução de emissão é importante, você deveria continuar olhando para o Brasil”, analisa o diretor executivo.

Com informações de Estadão Conteúdo (Renan Monteiro)
Imagem: Shutterstock

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