Após a onda dos chatbots e assistentes virtuais, a Inteligência Artificial entrou em uma nova fase: a era da IA agêntica. Os agentes são projetados para agir de forma autônoma, tomar decisões, planejar e executar tarefas com base em metas, sem depender da supervisão humana constante.
Mas o que será que vem depois? Para Marcelo Pontieri, diretor de Marketing da divisão Enterprise da Nvidia para a América Latina, o futuro da IA passa pela capacidade de Inferência, a habilidade de interpretar informações, fazer suposições e tirar conclusões com base em contextos complexos.
O executivo conversou com exclusividade com a Mercado&Consumo durante o BConnected 2025 e falou sobre o momento da Inteligência Artificial e da Nvidia no Brasil e no mundo. Confira abaixo:
Mercado&Consumo – IA, dados, IA generativa… Agora a IA agêntica é a bola da vez. Como ela pode mudar o cenário das empresas, principalmente as de varejo?
Marcelo Pontieri – Hoje o varejo é um dos três setores que possui a maior adoção de Inteligência Artificial. Finanças e Helthcare completam esse tripé. A IA agêntica vem para fazer um trabalho que enxergamos como operacional e que pode trazer um resultado gigantesco para a empresa, dependendo muito do core do negócio. No caso do varejo, podemos falar de divulgação de produto, propaganda…
O agente de IA pode ajudar na busca daquele consumidor específico para determinado produto. Tanto na parte do planejamento, quanto trazer um comportamento de consumo que ele tenha, de acordo com o que ele busca, sendo mais assertivo no produto que aquele consumidor quer. O agente de IA também pode ajudar muito no dia a dia das empresas. Ele pode, por exemplo, criar uma campanha de marketing baseada nos parâmetros que foram passados para ele para a construção daquele planejamento.
Esses agentes de IA são muito importantes, mas requerem um conhecimento das pessoas para serem usados. As plataformas estão trazendo cada vez mais facilidades para as pessoas usarem agentes de IA, para que o usuário mais leigo consiga fazer com que o agente trabalhe para ele de maneira funcional.
M&C – Da pandemia para cá, as empresas amadureceram quando falamos de adoção de tecnologia, principalmente IA? E quem ainda não está pronto, o que deve fazer?
MP – Temos alguns cenários quando falamos de amadurecimento de empresas em tecnologia. Os ‘early adopters’ saem na frente. Mas está tudo muito no começo. Tem empresa que não sabe por onde começar, mas tem aquelas que querem fazer tudo também. E quem geralmente tenta tudo, não faz nada. Como trabalhamos isso com esse perfil de empresa? A ideia é resolver um problema por vez com o auxílio da IA para ao final conseguir ter o todo.
A gente movimenta um ecossistema hoje que é amplamente favorável a qualquer tipo de perfil de empresa adotar a Inteligência Artificial. Com as soluções de nuvem, nós conseguimos levar, por exemplo, aquele início de IA que uma empresa precisa, sem a necessidade de hardware e de software e a um custo bem acessível. Quando esse projeto escala, aí sim a empresa leva a infraestrutura para dentro de casa.
Não é difícil de começar. Muitas empresas ainda estão começando. Alguns segmentos saem na frente, por conta de mão de obra especializada, mais ‘punch’ de investimento e estar mais ligado e identificar o momento com maior rapidez em relação a outros. Enquanto isso as outras empresas precisam entender melhor, acima de tudo, em que parte do negócio a Inteligência Artificial pode ajudar. Isso é fundamental dentro da nossa estratégia.
M&C – Consegue compartilhar algum case da Nvidia que demonstra um pouco dessa estratégia e do momento das empresas?
MP – Temos um case na parte de varejo que é a Doris. É uma empresa de ‘try on’, que leva Inteligência Artificial para provadores de lojas como Aramis, Reserva, Nike… Eles têm uma jornada muito interessante. Nós temos um programa para startups que se chama ‘Inception’. Não fazemos aporte financeiro, mas ajudamos as startups com conhecimento. Entendemos o nível de envolvimento de Inteligência Artificial do projeto e ajudamos essas empresas a adotarem tecnologias e processos de IA através de nossos techs, possibilitando treinamentos, benefícios, descontos e até crédito na nuvem para que o trabalho comece a ser processado.
A Doris passou por todo esse processo com a gente. Eles se destacaram tanto na jornada de aprendizado que os convidamos para levar o ‘try on’ para a loja que montamos em nosso maior evento anual, nos EUA. Esse é um case muito bacana e que mostra a possibilidade de evolução das empresas neste tema.
M&C – Temos visto muita gente se distanciar um pouco de tecnologia e se voltar ao “humano”. Você acha que podemos ter já chegado em um ponto de desacelerar e talvez dar dois passos para trás na tecnologia em nossas vidas?
MP – Em algum momento isso vai acabar acontecendo, mas acredito que ainda estamos um pouco distantes. Ainda temos muito o que aproveitar da Inteligência Artificial, principalmente o mercado brasileiro. Quando pensamos em ‘dois passos para trás’, precisamos saber que a velocidade desse avanço tecnológico é muito grande. Talvez se dermos dois passos para trás perderemos lá na frente algo novo.
Eu acho que esses dois passos para trás pode ser interessante, mas sem deixar de olhar o futuro. Não deixar de olhar para o que está acontecendo e o que vai aparecer de novo. Talvez caiba melhor falar em ‘meio passo’ para trás.
Quando a IA explodiu, por exemplo, com a democratização do ChatGPT, ninguém imaginava que falaríamos do conceito de agentes de IA, que veio a aparecer mais ou menos um ano e meio depois. O que será que vai aparecer de novo daqui um ano e meio? Qual será o tema do próximo ano que continuará girando essa roda da Inteligência Artificial?
M&C – E qual será a próxima novidade em Inteligência Artificial, como atualmente é o agente de IA?
MP – Eu acho que ainda temos um espaço muito grande para trabalhar o conceito de inferência. Temos várias fases da Inteligência Artificial e o momento de início é o momento de treinamento. Entendo que todo mundo que tinha que treinar, já treinou os seus dados. Então agora é só fazer a complementação e fazer com que a IA te traga os resultados.
Falamos muito sobre um conceito de IA chamado ‘token’, que é nada mais do que transformar o prompt em ‘blocos de Lego’, fazendo com que os dados que estão sendo treinados por trás te traga o resultado após ‘quebrar’ a frase do prompt. Desta maneira ele consegue prever o que você está buscando. Por isso hoje, após o resultado, a plataforma de IA já sugere novas ideias sem mesmo que você tenha pedido. Ele consegue, através da quebra por blocos, ler e interpretar o seu prompt para já te dar novas sugestões.
Eu acho que a inferência estará cada vez mais aprimorada, sendo responsável por trazer a resposta rápida daquilo que você quer.
Imagem: Envato