Com mais de 450 milhões de habitantes e um PIB superior a 17,9 trilhões de euros (2024), a União Europeia é, sem dúvida, um dos maiores mercados de consumo no mundo. Mas o varejo da Europa, assim como o de outras regiões, vive um momento de contrastes: de um lado, pressões econômicas, inflação e concorrência global; de outro, oportunidades trazidas pela digitalização, pela Inteligência Artificial (IA) e por um consumidor cada vez mais conectado.
A livre circulação de mercadorias, serviços, capital e pessoas dentro do bloco cria um mercado interno robusto. O varejo representa 11,5% do valor agregado da União Europeia, empregando mais de 30 milhões de pessoas. O ecossistema é composto de 5,5 milhões de empresas e, em média, os consumidores gastam um terço do seu orçamento em lojas de varejo.
A situação econômica atual da União Europeia é marcada por pressões devido a juros elevados e inflação persistente, contrastando com o baixo crescimento registrado em comparação com outras grandes economias (China, por exemplo) e a guerra na Ucrânia. O crescimento do PIB da União Europeia foi de 1% entre 2023 e 2024. É um crescimento baixo e que se repete já faz anos.
A digitalização transformou o varejo físico (lojas) em um varejo multicanal (lojas físicas combinadas com serviços online). É um modelo comum e bem-sucedido.
Existe, ainda, claramente, a aceleração do uso da Inteligência Artificial (IA) para otimizar operações e oferecer experiências mais personalizadas aos consumidores. O avanço da IA tem gerado novas oportunidades para o setor, especialmente em eficiência de processos e fidelização de clientes.
Dito isso, o varejo na União Europeia enfrenta desafios devido a fatores como a digitalização e a concorrência de plataformas online de vendas asiáticas (principalmente para o varejo não alimentar), mas também está impactado por crises econômicas, inflação e incertezas energéticas (aceleradas pela guerra da Ucrânia).
A concorrência de plataformas online asiáticas foi se acelerando desde a pandemia de covid-19 de tal forma que a União Europeia irá provavelmente taxar compras de plataforma como Temu e Shein importadas da China, para criar uma competição mais justa com as empresas europeias. Foi o que fez o Brasil em 2024 com a “taxa das blusinhas”.
A pandemia de covid-19, a invasão Russa da Ucrânia, crise energéticas e inflação também levaram à redução do poder de compra do consumidor, afetando fortemente o varejo.
Há, ainda, um foco crescente na sustentabilidade no ecossistema do varejo. Mas as incertezas econômicas têm dificultado os investimentos necessários para a transição verde.
A NRF Europa 2025, que acontece de 16 a 18 de setembro em Paris, promete reunir debates sobre os principais caminhos do varejo no continente. A programação terá como foco tecnologias emergentes, como Inteligência Artificial, automação e Internet das Coisas, que já estão redefinindo a experiência de compra. Também estarão em pauta a sustentabilidade e os impactos das pressões econômicas, da crise energética e da concorrência das plataformas asiáticas. Paris foi escolhida como sede por sua relevância no universo da moda, do luxo e da cultura, mas também por se consolidar como um polo de inovação e negócios na Europa.
A Mercado&Consumo fará uma cobertura especial do evento. Vale a pena acompanhar.
Stephane Engelhard é administrador de empresas e membro de conselhos consultivos e projetos focados em governança corporativa.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato