Quem são os pequenos lojistas do país? Que desafios enfrentam? Quais oportunidades vislumbram? E de que tipo de apoio precisam?
Para responder a essas e outras perguntas, a equipe de pesquisa da Troiano Branding realizou um extenso estudo qualitativo e quantitativo com comerciantes de mercearias de pequeno porte. Embora o foco estivesse no varejo alimentar, os resultados refletem a realidade de empreendedores de diversos segmentos, muitos deles presentes nos shopping centers brasileiros.
O peso dos pequenos lojistas
A importância do comércio independente pode ser medida por sua quantidade e abrangência. De acordo com a NielsenIQ, pequenos bares, restaurantes, mercadinhos e farmácias de bairro representam 95% dos pontos de venda nesses setores.
No universo da moda, o cenário é semelhante. Lojas independentes respondem por 85% dos pontos de venda de roupas no Brasil, mas concentram apenas 30% do faturamento, segundo o IEMI. Já os cinco maiores grupos varejistas detêm 30% das vendas, de acordo com a SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo).
Nos shopping centers, esses empreendedores também têm peso relevante. No balanço do 3º trimestre de 2023, a Multiplan informou que as 25 maiores redes respondiam por 24% de sua receita de aluguel. Ou seja, três quartos da arrecadação vinham de redes locais ou pequenos lojistas.
As dores e os prazeres
Por isso, entender o cotidiano e os sentimentos desses empresários é essencial. A pesquisa da Troiano revelou uma realidade marcada por angústia e sobrecarga. “Olha, é muito desespero. Fico querendo fazer mais e não podendo. Então, começa a dar esse desespero, essa agonia. Eu quero batalhar, mas não tem para onde correr”, desabafou um dos entrevistados.
Os principais desafios apontados foram questões financeiras (77%), concorrência (60%) e negociações (57%). Faz sentido: sem escala, é difícil captar recursos para expandir ou manter o negócio e negociar com fornecedores. Ao mesmo tempo, a concorrência é cada vez mais agressiva e vem de todos os lados. A sensação predominante é de impotência.
Outro ponto importante é a falta de formação técnica. Muitos aprendem a gerir o empreendimento no dia a dia, por tentativa e erro. O mesmo vale para as equipes: em 82% das pequenas mercearias, quem treina os funcionários é o próprio dono.
Esse lojista precisa cuidar de tudo, da compra ao recrutamento de funcionários. Nesse contexto, é natural priorizar a operação cotidiana em detrimento de novas estratégias ou soluções de crescimento, sempre em meio a muita incerteza.
“É muita ansiedade, é difícil até para lidar com ela. Ansiedade, nesse caso, pela questão de não saber o que você vai conseguir, o seu futuro mesmo. Então, eu não sei o quanto eu vou ganhar, ou se vou perder”, contou uma entrevistada.
Ser um pequeno varejista, portanto, pode ser doloroso, mas há também prazeres nessa jornada. O maior deles é melhorar a vida da família e proporcionar mais conforto, realizar sonhos próprios e de quem se ama. Soma-se a isso, a liberdade de ser dono do próprio nariz, um valor central para muitos.
Necessidade de apoio
A jornada é solitária e a necessidade de apoio, enorme. Embora a pesquisa da Troiano tenha se concentrado nas mercearias, o retrato se aplica a empreendedores independentes de diversos segmentos, inclusive àqueles que fazem parte do mix dos shoppings.
Nos shopping centers, vale refletir sobre a natureza profundamente emocional da relação com esses lojistas. Afinal, é do resultado daquele negócio que dependem não só a sobrevivência, mas também os sonhos dessas famílias. Os embates comerciais, nesse contexto, ganham outra dimensão.
Poucos shoppings oferecem apoio consistente a esse público. E, justiça seja feita, muitos lojistas também evitam se engajar nas iniciativas propostas pelos centros comerciais, seja por falta de tempo, seja por desconfiança. Isso representa um problema ou uma oportunidade, dependendo de como se prefere enxergar o copo: meio vazio ou meio cheio.
Uma coisa é certa: shoppings e lojistas independentes precisam um do outro para prosperar. O terreno é fértil para quem quiser plantar a semente de um programa estruturado de apoio a esses empreendedores.
Em tempo: no caso das pequenas mercearias, a Gouvêa está liderando um programa amplo, com apoio da indústria. Por que não fazer o mesmo com os pequenos lojistas de shopping? Bora falar sobre isso?
Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
Imagem: Envato