Nos últimos anos o varejo passou por transformações profundas. A digitalização acelerou, o comportamento do consumidor mudou e novas tecnologias passaram a fazer parte da rotina das lojas. Mas, entre tantas inovações, um tema ganhou força e atravessou as conversas estratégicas: a saúde mental das pessoas que fazem o varejo acontecer.
Esse assunto deixou de ser apenas uma pauta de RH para se tornar uma discussão de negócio. Não é coincidência. O varejo é, por natureza, um setor de ritmo intenso: metas diárias, alto fluxo de informações, contato direto com o cliente, operação que exige atenção constante e, muitas vezes, equipes enxutas. Tudo isso cria um ambiente em que as pessoas precisam estar bem para entregar o melhor — e é exatamente aqui que surge a importância de olhar para a saúde mental.
O ponto central é simples: o varejo é feito de gente. Pessoas que atendem, que resolvem, que abastecem, que criam e que garantem uma boa experiência ao cliente. E a experiência do cliente depende diretamente da experiência do colaborador. Quando o time está bem, tudo funciona melhor — da operação ao atendimento, das vendas ao clima organizacional.
Essa discussão se torna ainda mais relevante diante do cenário atual. A busca por mão de obra qualificada está mais desafiadora e os profissionais procuram ambientes em que possam se desenvolver e se sentir valorizados. Isso significa que, além de reter talentos, o varejo precisa ser percebido como um setor atrativo — e isso passa, necessariamente, pelo cuidado com as pessoas.
Cuidar da saúde mental não exige projetos complexos. Envolve criar ambientes equilibrados, em que as equipes tenham condições reais de realizar um bom trabalho: processos claros, comunicação transparente, espaço para aprender, suporte das lideranças e um clima que favoreça a colaboração. São ações simples, mas que fazem diferença concreta na vida das pessoas e no resultado das empresas.
É importante lembrar que a intensidade faz parte do varejo. Toda operação convive com desafios, demandas diárias e períodos de maior pressão. O papel das empresas é oferecer estruturas que deem mais estabilidade emocional para que os times enfrentem esses ciclos de forma saudável. Pequenas práticas de gestão têm impacto imediato: lideranças mais presentes, feedbacks consistentes, rotinas organizadas, reconhecimento e prioridade para treinamentos.
No fim, o cuidado com a saúde mental no varejo é sobre eficiência. Quando as pessoas estão bem, elas pensam melhor, atendem melhor, tomam decisões melhores e permanecem mais tempo na empresa. É produtividade, não sensibilidade. É estratégia, não tendência passageira.
O futuro do varejo será cada vez mais competitivo, digital e omnichannel — mas nunca deixará de ser humano.
Fernanda Dalben é diretora de Marketing da rede de Supermercados Dalben.
*Este texto reproduz a opinião do autor e não reflete necessariamente o posicionamento da Mercado&Consumo.
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