Passaporte para o Futuro

Passaporte para o Futuro

É evidente a inspiração que vem do programa “Uma Ponte para o Futuro”, lançado em outubro de 2015 pelo PMDB e que criava a referência para o governo Michel Temer que se seguiu. E esse tema veio no debate que tivemos exatamente com o ex-presidente na semana passada com a participação de presidentes e CEOs que atuam no varejo e nos setores ligados ao consumo.

E que mereceu a defesa do ex-presidente Temer em jantar com empresários em seguida com a ideia de sua reedição como “Uma Ponte para o Futuro 2”.

Em nosso debate, destacou-se o quanto os temas tratados naquele documento de 2015 eram atuais e, com poucos e pontuais ajustes, cabiam perfeitamente como uma proposta para inspirar o setor empresarial numa aglutinação, integração e alinhamento, defendendo que todos aqueles que pretendam se candidatar para as eleições presidenciais de 2022 e queiram o apoio do setor empresarial do Brasil endossem e se comprometam com suas diretrizes.

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Na revisão do que se proponha, no mínimo deveria ser dada ênfase às questões sociais, tema que suscitou críticas quando da sua divulgação pela omissão no texto, e também ao tema sustentabilidade, que na atualidade se tornou ponto relevante sob qualquer perspectiva. Além de atualizá-lo, nominando-o “Passaporte para o Futuro”, pela ênfase que também deveria ser dada aos temas internacionalização e globalização.

Vale recordar o que se propunha em 2015 e que poderia ser ponto de partida no seu direcionamento atual:

a. Construir uma trajetória de equilíbrio fiscal duradouro, com superávit operacional e redução progressiva do endividamento público;

b. Estabelecer um limite para as despesas de custeio inferior ao crescimento do PIB, por meio de lei, após serem eliminadas as vinculações e as indexações que engessam o Orçamento;

c. Alcançar, em no máximo 3 anos, a estabilidade da relação dívida/PIB e uma taxa de inflação no centro da meta de 4,5%, que juntos propiciarão juros básicos reais em linha com uma média internacional de países relevantes – desenvolvidos e emergentes – e taxa de câmbio real que reflita nossas condições relativas de competitividade;

d. Executar uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de serviços públicos e retorno ao regime anterior de concessões na área de petróleo, dando-se à Petrobras o direito de preferência;

e. Realizar a inserção plena da economia brasileira no comércio internacional, com maior abertura comercial e busca de acordos regionais de comércio em todas as áreas econômicas relevantes – Estados Unidos, União Europeia e Ásia -, com ou sem a companhia do Mercosul, embora preferencialmente com ele. Apoio real para que o nosso setor produtivo se integre às cadeias globais de valor, auxiliando no aumento da produtividade e alinhando nossas normas aos novos padrões normativos que estão se formando no comércio internacional;

f. Promover legislação para garantir o melhor nível possível de governança corporativa às empresas estatais e às agências reguladoras, com regras estritas para o recrutamento de seus dirigentes e para sua responsabilização perante a sociedade e as instituições;

g. Reformar amplamente o processo de elaboração e execução do orçamento público, tornando o gasto mais transparente, responsável e eficiente;

h. Estabelecer uma agenda de transparência e de avaliação de políticas públicas que permita a identificação dos beneficiários e a análise dos impactos do programa. O Brasil gasta muito com políticas públicas com resultados piores do que a maioria dos países relevantes;

i. Na área trabalhista, permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais, salvo quanto aos direitos básicos;

j. Na área tributária, realizar um vasto esforço de simplificação, reduzindo o número de impostos e unificando a legislação do ICMS, com a transferência da cobrança para o Estado de destino, desoneração das exportações e dos investimentos, reduzindo as exceções para que grupos parecidos paguem impostos parecidos;

k. Promover a racionalização dos procedimentos burocráticos e assegurar ampla segurança jurídica para a criação de empresas e para a realização de investimentos, com ênfase nos licenciamentos ambientais que podem ser efetivos sem ser necessariamente complexos e demorados;

l. Dar alta prioridade à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico que são a base da inovação.

Não há dúvidas de que as macrodiretrizes propostas estavam no caminho adequado, ainda que, como já mencionado, caibam necessários ajustes, com inclusões, exclusões e adaptações.

Mas é tempo de invertermos a lógica anterior que nos tempos atuais teima em não dar certo.

Está na hora de o setor empresarial propor um programa e apenas apoiar aqueles que se comprometam a implementá-lo, envolvendo as alas do Congresso que se aliem com o mesmo, sendo julgada a forma de implementação para termos certeza de que serão usados os recursos corretos para atingir o objetivo.

Isso talvez possa assegurar um verdadeiro Passaporte para o Futuro.

Marcos Gouvêa de Souza é fundador e diretor-geral da Gouvea Ecosystem e Publisher da Plataforma Mercado & Consumo.
Imagem: Envato/Arte/Mercado&Consumo

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